quarta-feira, 13 de maio de 2009

13 de maio, a lei áurea e a lenda

Machado de Assis escreveu em setembro de 1876 uma crônica sobre o grito do Ipiranga. O Bruxo do Cosme Velho comenta que um leitor reclamava “pela Gazeta de Notícias contra essa lenda de meio século. Segundo o ilustrado paulista não houve nem grito nem Ipiranga (...) Houve resolução do Príncipe D. Pedro, independência e o mais; mas não foi positivamente um grito, nem se deu nas margens do célebre ribeiro (...) Minha opinião é que a lenda é melhor do que a história autêntica. A lenda resumia todo o fato da independência nacional, ao passo que a versão exata o reduz a uma coisa vaga e anônima” (MACHADO DE ASSIS, Obras completas. RJ, Nova Aguilar, 2006, p.346-347).
Aprendi nas aulas de História do Brasil, em minha adolescência, que no dia 13 de maio de 1888 a princesa Isabel assinou a lei áurea. Trata-se da Lei 3.353 que libertou os escravos do Brasil. Uma lenda! Uma lenda que esconde as lutas, os levantes, as insurreições, as guerras, as prisões, as torturas, as perseguições, as discriminações de muitos escravos e abolicionistas. Lenda que nega a participação popular, imensamente criativa e heróica, canalizando tudo para uma princesa que faz a redenção pela ação mágica de uma caneta (pena), como uma fada madrinha e sua varinha de condão.
Esta lenda esconde também os interesses mercantilistas do império britânico e a expansão do capitalismo industrial que exigia uma nova versão da escravidão: a mão-de-obra assalariada.

Alexandre Fonseca

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