terça-feira, 19 de maio de 2009

Enchente, solidariedade e risco de corrupção

Nestes dias visitei um casal de jovens. Casaram-se em dezembro do ano passado. Alugaram uma casa. Os dois trabalham em uma fábrica de calçados. No início de maio acordaram por volta das 23:30h quando uma forte corrente de água invadia sua residência. Em poucos minutos parecia um rio carregando seus pertences adquiridos com muito esforço. Vexame e desespero pareciam querer dominá-los. Gritam por socorro. A vizinhança aparece e com muito empenho tratam de salvar o que podem como se a situação fosse com eles mesmos. “A aflição era muita, mas sentia uma grande alegria vendo e sentido a solidariedade dos vizinhos”, disse o jovem operário.

As chuvas vêm promovendo medo e apreensão e, ao mesmo tempo, solidariedade. Gestos bonitos afloram em abundância. A solidariedade é a maior riqueza dos povos. Pena que esta atitude não ocorra também em situações emergenciais que se tornaram crônicas como luta pela reforma agrária e urbana, e a luta pela demarcação dos territórios indígenas.

A casa alugada pelo jovem casal foi construída no canal por onde passa o sangradouro de um açude. O proprietário cuidou de colocar um bueiro de pequeno diâmetro, mas insuficiente para uma maior vazão de água. Conseguiu licença da Prefeitura para o empreendimento ilegal e irresponsável.

As chuvas são sempre bem-vindas no semi-árido nordestino. Quase não há rios perenes. Águas correndo nos rios só por ocasião dos períodos chuvosos. Cessam as chuvas, secam-se os rios. As chuvas promovem brilho nos olhos e acordam sonhos de fartura e dias melhores.

Porque as chuvas estão promovendo tanto transtorno nos últimos tempos no semi-árido?

Todo município precisa de um Plano Diretor que deve, dentre outras coisas, planejar e controlar o crescimento urbano. Ao Estado cabe proteger e preservar o meio ambiente, sobretudo os rios e matas ciliares, lagoas, mananciais, mangues. Ou seja, deve regulamentar a ocupação e uso do meio ambiente de forma responsável. Não é preciso muito esforço para se ver aterros criminosos, loteamentos clandestinos ou com licenças compradas nos organismos que deveriam proteger o meio ambiente. Governos estaduais e federal anunciam liberação de verbas. Como se trata de situação de emergência não precisa de licitação para compras de alimentos, água potável, cobertores, colchões, reconstrução de casas, estradas, dentre outras providências. O risco de corrupção é medonho.

Alexandre Fonseca

Nenhum comentário:

Postar um comentário