Deixamos de ter medo e começamos o movimento” afirma, com entusiasmo, a liderança Ivonilde Tapeba, a respeito do papel de Dom Aloísio Lorscheider na luta pelo reconhecimento territorial e étnico do povo Tapeba, que desencadeou o movimento indígena no Ceará. Hoje, há 16 povos no estado: Anacé, Tapeba, Pitaguary, Kanindé, Jenipapo-Kanindé, Paupina, Tremembé, Potiguara, Tabajara, Guarani, Kalabaça, Tupinambé, Kariri, Jucá, Kapuxu e Gavião.
De 1973 a 1995, Dom Aloísio foi Arcebispo de Fortaleza. Em 1982, Dom Aloísio Lorscheider encarregou José Cordeiro, coordenador da Pastoral Rural da Arquidiocese de Fortaleza, de visitar os Tapeba da Aldeia da Ponte, em Caucaia. Três meses depois do primeiro contato Dom Aloísio visitou a área. O medo foi sendo vencido e lideranças começaram a brotar para assumirem os desafios da luta indígena: “Raimunda Rodrigues, da Ponte; Bastião André, do Açude; seo Fernando, Chico Bento e a Virgem (Maria Teixeira) da Capoeira; Cláudio, Ivonilde e dona Zuila, do Trilho; seo Severino, seo Rodrigues e Iracema, da Lagoa” cita Ivonilde alguns dos primeiros nomes que começaram a luta . “Demos início à luta pela terra. Muitas reuniões na Igreja da Sé. Ia um caminhão pau de arara cheio de índio. Lá a gente se reunia o dia inteiro”.
Nasceu assim, a Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Fortaleza, que nos anos seguintes participa do processo de luta de outros povos: Jenipapo kanindé, Potiguara e kanindé de Aratuba. Apoiaram também o povo Tremembé.
A imensa contribuição de Dom Aloísio à luta dos povos indígenas do Ceará foi dar visibilidade ao movimento indígena. O protagonismo do processo de organização e mobilização dos povos indígenas era dos próprios povos indígenas. O Cardeal usava sua influência na sociedade cearense e brasileira para que os indígenas aparecessem. Isto os motivava para que rompessem o medo de assumir e viver suas culturas e de recuperar seus territórios.
Mesmo depois de sair da Arquidiocese de Fortaleza, Dom Aloísio continuou apoiando os povos indígenas do Ceará. Em junho de 2004 ele esteve na aldeia de Bolsas, do Povo Anacé, que iniciava seu processo de luta territorial e reconhecimento étnico. Na ocasião Dom Aloísio declarou: “Vocês estão no caminho certo. É preciso se unirem, se organizarem para a defesa dos seus direitos. Eu lamento não ser mais o arcebispo de Fortaleza para ajudar vocês, mas procurem o arcebispo, procurem a Arquidiocese de Fortaleza, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos e não tenham medo. Continuem bem unidos e fiquem firmes, essa terra é de vocês!”
Dom Aloísio foi presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) entre 1971 e 1979. Em 1976 foi eleito Cardeal e, entre 76 e 79 foi presidente do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam). Ele faleceu em 23 de dezembro de 2007, aos 84 anos de vida.
Alexandre Fonseca
Jornal Porantim, Nº 302, jan-fev/2008, p. 15.
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