sábado, 27 de junho de 2009

Dom Aloísio Lorscheider e a luta dos povos indígenas


Deixamos de ter medo e começa­mos o movimento” afirma, com entusiasmo, a liderança Ivonil­de Tapeba, a respeito do papel de Dom Aloísio Lorscheider na luta pelo reconhecimento territorial e étnico do povo Tapeba, que desencadeou o movimento indígena no Ceará. Hoje, há 16 povos no estado: Anacé, Tapeba, Pitaguary, Kanindé, Jenipapo-Kanindé, Paupina, Tremembé, Potiguara, Taba­jara, Guarani, Kalabaça, Tupinambé, Kariri, Jucá, Kapuxu e Gavião.

De 1973 a 1995, Dom Aloísio foi Arcebispo de Fortaleza. Em 1982, Dom Aloísio Lorscheider encarregou José Cordeiro, coordenador da Pastoral Rural da Arquidiocese de Fortaleza, de visitar os Tapeba da Aldeia da Ponte, em Caucaia. Três meses depois do primeiro contato Dom Aloísio visitou a área. O medo foi sendo vencido e lideranças começaram a brotar para assumirem os desafios da luta indígena: “Raimunda Rodrigues, da Ponte; Bastião André, do Açude; seo Fernando, Chico Bento e a Virgem (Maria Teixeira) da Capoeira; Cláudio, Ivonilde e dona Zuila, do Trilho; seo Severino, seo Rodrigues e Iracema, da Lagoa” cita Ivonilde alguns dos primeiros nomes que começaram a luta . “Demos início à luta pela terra. Muitas reuniões na Igreja da Sé. Ia um caminhão pau de arara cheio de índio. Lá a gente se reunia o dia inteiro”.

Nasceu assim, a Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Fortaleza, que nos anos seguintes participa do processo de luta de outros povos: Jenipapo kanindé, Potiguara e kanindé de Aratuba. Apoia­ram também o povo Tremembé.

A imensa contribuição de Dom Aloí­sio à luta dos povos indígenas do Ceará foi dar visibilidade ao movimento indí­gena. O protagonismo do processo de organização e mobilização dos povos indígenas era dos próprios povos indí­genas. O Cardeal usava sua influência na sociedade cearense e brasileira para que os indígenas aparecessem. Isto os motivava para que rompessem o medo de assumir e viver suas culturas e de recuperar seus territórios.

Mesmo depois de sair da Arquidio­cese de Fortaleza, Dom Aloísio conti­nuou apoiando os povos indígenas do Ceará. Em junho de 2004 ele esteve na aldeia de Bolsas, do Povo Anacé, que iniciava seu processo de luta territorial e reconhecimento étnico. Na ocasião Dom Aloísio declarou: “Vocês estão no caminho certo. É preciso se unirem, se organizarem para a defesa dos seus direitos. Eu lamento não ser mais o ar­cebispo de Fortaleza para ajudar vocês, mas procurem o arcebispo, procurem a Arquidiocese de Fortaleza, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos e não tenham medo. Continuem bem unidos e fiquem firmes, essa terra é de vocês!”

Dom Aloísio foi presidente da Con­ferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) entre 1971 e 1979. Em 1976 foi eleito Cardeal e, entre 76 e 79 foi pre­sidente do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam). Ele faleceu em 23 de dezembro de 2007, aos 84 anos de vida.

Alexandre Fonseca
Jornal Porantim, Nº 302, jan-fev/2008, p. 15.

Nenhum comentário:

Postar um comentário