segunda-feira, 1 de junho de 2009

Atentado ao cacique Aníbal Potiguara


Por volta das 19h30 do domingo, 22 de março/09, dois homens encapuzados derrubaram a porta da residência do cacique Aníbal da aldeia Jaraguá, do povo Potiguara, no município de Rio Tinto (PB). Invadiram a casa, dirigiram-se para os interruptores da cozinha e do quarto das três crianças para apagar duas lâmpadas. Sob a penumbra oferecida pala televisão ligada, dispararam vários tiros no cacique Aníbal que, alvejado,caiu no chão. Os filhos abraçaram o pai no chão banhado de sangue. Aníbal foi imediatamente removido para um hospital de emergência, em João Pessoa, cerca de 90 km do local do atentado. O cacique foi atingido por duas balas: uma perfurou o pulmão e a outra se encontra alojada em seu maxilar. Ele saiu do hospital no dia 2 de abril e os médicos acharam por bem não retirar as balas.

Na tarde do dia 23, lideranças do povo Potiguara se reuniram na Polícia Federal para solicitar proteção policial para Aníbal e tomarem as providências cabíveis. Indignados pela demora na chegada da Polícia Federal e revoltados com a brutalidade do episódio, os Potiguara da aldeia de Jaraguá interditaram, a estrada que liga a cidade da Baia da Traição com a BR 101. A Policia Federal foi no local apenas 24 horas depois do atentado. Depois que a movimentação na estrada se dispersou, uma pessoa sacou de um revólver e deu vários disparos, promovendo pânico e correria. Policiais agiram prontamente desarmando e prendendo o homem.

No dia 25, as primeiras testemunhas foram prestar depoimentos. O cacique Bel, da aldeia de Três Rios e a cacique Cau, da aldeia Monte Mor também estão sob ameaça de morte.

Aníbal não pediu vingança quando voltou. Pediu festa. Convocou seu povo para festejar a luta pela vida, pela terra livre com muito Toré. Aníbal faz parte de uma nova geração de lideranças do povo Potiguara que rompe com a prática de arrendamento de terra para usineiros. “O que aconteceu com Aníbal,
não acontece só com ele não; acontece com qualquer pessoa que luta pelo direito à terra” afirma Cir, vice-cacique da aldeia Três Rios, também ameaçado de morte. “Quando a gente começou aqui não tinha nenhuma casa, era só cana. Hoje existem 111 famílias. Muito roçado e pomares, passarinho de todo tipo aparece, até sagüi um dia desse eu vi”, relembra com satisfação, o cacique Bel, da aldeia Três Rios, outro que está marcado para morrer.

Alexandre Fonseca
In Jornal Porantim, nº 314, p. 12

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